Dias desses, eu andava pelas ruas do centro com um amigo e vimos um muro pichado com uma frase curiosa: “nem tudo é minha culpa – ass. diabo”. O que me lembra, em semana de atentados contra o STF e também de discussão sobre a redução na escala de trabalho 6×1, que, desde que o mundo é mundo, o ser humano coloca a culpa das coisas no famoso capiroto. Sempre penduram em seu pescoço o crachá de bode… expiatório.
É mais fácil dizer que o que acontece foi obra de um anjo caído dos céus – que está por aí, em escala 7×0, atrapalhando você de sacar R$ 80,00 no tigrinho – do que considerar a possibilidade de que as coisas no mundo acontecem de forma arbitrária ou que o catchup de sachê, bermudas jeans, bombons como prêmios por metas milionárias de vendas alcançadas, bombas atômicas, propagandas de mais de 1 minuto no YouTube, reuniões de mais de uma hora, talheres e copos de plástico, cocaína, áudios de mais de 30 segundos no WhatsApp, emoji de joinha, racismo, número 0300 que liga dia e noite, fake news e microgerenciamento de colaboradores foram criados simplesmente por gente.
A verdade é que muitas pessoas têm medo. Pavor de serem elas aquelas que os dedos apontam como os responsáveis pelas coisas – tanto as erradas, quanto as certas. Então elas terceirizam. “Foi Deus que me deu”. “o Diabo me fez trair minha esposa”. Aliás, essas frases me lembram quando, ouvi falar certa vez sobre assaltantes que pedem a bênção de Deus antes de praticarem seus delitos. Para estas pessoas, aceitar o fato que tudo o que acontece é apenas o resultado de alguma ação – de qualquer coisa que exista – , ou do acaso, é quase tão feio quanto bater em mãe. Elas não acreditam na possibilidade de uma folha cair de uma árvore apenas porque sua biologia precisou se adaptar ao frio ou à falta de água e nutrientes. Elas não acreditam que uma pessoa não queira trabalhar 6, 7 dias por semana, assim como elas, para ter um pouquinho mais de qualidade de vida. Elas não acreditam que um chaveiro, amigo da pátria e da família, não tenha sido influenciado pelo ódio político que se instalou no Brasil quando jogou bombas no STF. É o diabo que tomou conta de tudo. Ou Deus que quis assim. A linha é muito tênue.